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Foto do escritorDaniela Calaça

Autorizar-se a Falar: Uma Revolução Pessoal e Política para as Mulheridades Negras


Para mim, é um grande desafio me autorizar a estar como Sujeita Falante nos espaços. Falar em público desencadeia em mim um processo de sofrimento físico, emocional e psíquico. Sinto no corpo uma sensação de medo e paralisia; a ansiedade se transforma em insônia, angústia no peito e sufocamento. Somado a tudo isso, meu Superego, que já é rígido, se torna ainda mais autopunitivo. Para falar, preciso enfrentar todas as estruturas – aqui me refiro à minha estrutura psíquica, mas também à estrutura social, cultural, política e histórica –, eu preciso romper com os amordaçamentos impostos à minha mulheridade negra.


Ao pesquisar e trabalhar com a violência política de gênero e raça, pude compreender que todos esses sintomas também são resultados de uma introjeção de amordaçamentos simbólicos, que estão representados nas diferentes formas de dominações simbólicas masculinas, expressas por meio dos dispositivos de violência de gênero e raça. O espaço político – ressalto aqui que espaços políticos não se restringem somente à instituição governamental – é estruturado para a não inserção das mulheridades. Existem inúmeros mecanismos de exclusão introjetados estruturalmente nos padrões culturais, institucionais e sociais, que são marcados por estratégias político-ideológicas colonialistas patriarcais.


O sistema político colonialista patriarcal fixou categorias de subvalorização para raça e gênero, sendo esse dispositivo utilizado para estabelecer a hierarquização social de mais-valia para os corpos e para determinar as posições de poder.

O amordaçamento da boca das mulheridades trata-se de um projeto político.


A fala é política e se configura a partir de um ordenamento institucional político essencialmente masculino e branco. Somos socializadas a domesticar e amordaçar nossas vozes desde tenra idade.


A deslegitimação, a infantilização, a interrupção, a tutelagem e a subalternização são violências que atravessam nossa experiência subjetiva de forma categórica em todo o nosso percurso na vida. Todos esses mecanismos estruturais dão origem às sintomáticas de autoagressividade, insegurança, medo e paralisação. Para Lélia Gonzalez (1984), a articulação entre racismo e sexismo tem como consequência a produção de efeitos violentos sobre as mulheridades negras.


Para as mulheridades negras no Brasil, o racismo e o sexismo produziram três imagens de controle: a mulata, a doméstica e a mãe preta. A determinação dessas imagens para as mulheridades negras brasileiras tem como objetivo a sua domesticação e infantilização, servindo como meio simbólico de naturalização e justificativa para as opressões e violências racistas e sexistas.

No campo do discurso, as mulheridades negras sistematicamente são incentivadas a permanecerem na condição de amordaçamento: quando ela fala, seu discurso está engendrado na imagética da “mucama”, sendo a sua fala determinada pela representante de Outridade dominada, doméstica, ignorante e agressiva.


O racismo e o sexismo alimentam as disrupções intrapsíquicas das mulheridades negras.


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